Não sei se ainda persiste nos dias atuais, entre os bêbados, o gesto de dar um gole pro santo nos botecos antes de o sujeito tomar uma dose de cachaça. Ou de qualquer outra água que urubu não bebe (aliás, urubu voa de costas mundo afora na atual conjuntura).
Tem aquela historinha do bêbado que encheu a cara em um boteco. Como quem não quer nada, ele chegou de mansinho em um estabelecimento de secos e molhados, onde a preferência é sempre pelos molhados.
O botequim estava cheio de homens vazios, como dizia o poeta Vinícius de Moraes. Mas dizíamos: o sujeito chegou e logo encostou no balcão, colocando as mãos na parte de cima. Deu um tapa e ordenou ao dono do boteco: "Bota uma aí!" Solícito, o comerciante veio com a garrafa de pinga e um copo americano.
Sem pressa, porque isso é coisa de ansioso, o dono do estabelecimento colocou a tradicional dose. Às voltas com um mosquito que lhe enchia a paciência, o bêbado se virou e exigiu: "Enche! Só bebo dose dupla", explicou. Sabe aquela história de que o freguês sempre tem razão? O atendente voltou e encheu o copo até a boca, se é que copo tem boca (de cachaceiro sempre tem boca).
O bêbado não parou por aí e continuou enchendo a caveira. "Bota outra, agora aquela pinga adocicada de Pernambuco", ordenou já com voz pastosa. E depois outra e mais outra, sempre em dose dupla. Àquela altura os outros fregueses, também chegados na água que colibri não bebe, ficaram boquiabertos com a quantidade de cachaça que o sujeito bebeu. "Ele já tomou umas oito doses", contou um cliente. Por fim, o cachaceiro bom de copo pediu a saideira.
"Bota a saideira aí", pediu ao dono do botequim. Mais uma dose dupla. Espanto geral: em vez de beber ele pegou o copo e jogou toda a pinga no chão. "Esta é pro santo, meu santo não quer saber desse negócio de gole. Como eu, ele também exige dose dupla", explicou, acrescentando que bêbado que dá apenas um gole pro santo é mão de vaca.
DROPS
Quem tem sangue de barata não pode doar sangue.
Se o seu sangue ferve, dispense o fogão e cozinhe os alimentos direto no braço.
Não convidem para o mesmo jantar o rei Charles e o presifake Trapo.
A campanha eleitoral de 2026 já começou entre tapas e tapas (Brasil cada vez mais doidão com a polarização insana).
