O mês de abril é dedicado a conscientizar e dar visibilidade às pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Para entender o significado e a importância da conscientização sobre o autismo e como todos podemos contribuir para uma sociedade mais inclusiva e acolhedora, O Imparcial conversou com a neurologista infantil Mara Deise Batistela Ramalho, de Presidente Prudente.
Ela explica que o TEA ou autismo é uma condição do desenvolvimento do cérebro, em que a pessoa tem uma forma diferente de se comunicar, de interagir com os outros e de perceber o mundo ao redor. “Chamamos de ‘espectro’ porque os sinais e as intensidades variam muito de pessoa para pessoa. Algumas têm dificuldades mais leves, outras precisam de mais apoio no dia a dia. Não existe um único tipo de autismo, mas sim várias formas de manifestação”.
Segundo a neurologista, hoje o autismo é classificado em três níveis, de acordo com a quantidade de e ou apoio que a pessoa precisa no dia a dia:
- Nível 1 (leve): a pessoa precisa de pouco apoio. Pode ter dificuldade em interações sociais e comunicação, mas consegue lidar com muitas situações de forma mais independente;
- Nível 2 (moderado): precisa de apoio regular. Tem mais dificuldade para se comunicar e lidar com mudanças. Os comportamentos repetitivos e a sensibilidade a estímulos são mais evidentes;
- Nível 3 (severo): precisa de apoio intenso. Dificuldades significativas na fala, na interação e no comportamento. Pode precisar de ajuda constante para atividades básicas do dia a dia.
A médica ressalta que os sinais costumam aparecer nos primeiros anos de vida, geralmente antes dos 3 anos. Entre os sinais mais comuns estão: atraso na fala, pouco contato visual, dificuldade em brincar com outras crianças e comportamentos repetitivos, sendo que cada criança pode mostrar sinais diferentes.
Como pais e mães podem perceber algum sinal:
- A criança não olha nos olhos com frequência;
- Não responde quando é chamada pelo nome;
- Não aponta para mostrar o que quer ou para coisas que chamam a atenção;
- Tem atraso na fala ou na forma de se comunicar;
- Brinca de forma repetitiva, com mania de alinhar objetos ou girar brinquedos;
- Parece não se interessar muito pelas outras crianças;
- Se incomoda demais com sons, toques ou mudanças na rotina.
“Esses sinais sozinhos não significam que a criança tem autismo, mas são alertas que merecem ser avaliados por um especialista, pois diagnosticar cedo faz toda a diferença. Quanto mais cedo a criança foi identificada e começar a receber apoio, maiores são as chances de desenvolver suas habilidades e superar dificuldades. A intervenção precoce pode mudar o futuro da criança”, pontua a especialista.
Mara Deise explica que o tratamento ou intervenções, de modo geral, da pessoa dentro do espectro do autismo, tendem a ser trabalhados dentro da ABA - sigla em inglês para Applied Behavior Analysis ou Análise do Comportamento Aplicada. É uma abordagem terapêutica baseada na ciência do comportamento. “É feita de forma personalizada, de acordo com as necessidades de cada pessoa. O TEA não tem cura, mas quanto mais cedo começar, melhores são os resultados”.
Os principais profissionais envolvidos no tratamento são:
- Fonoaudiólogo: trabalha a fala e a comunicação;
- Terapeuta ocupacional: ajuda na coordenação, autonomia e rotina;
- Psicólogo: trabalha comportamento, emoções e habilidades sociais;
- Educadores especializados (psicopedagogos): adaptam o ensino para facilitar o aprendizado;
- Nutricionista: para pessoas com severas seletividades alimentares;
- Terapias aquática e equoterapia: tem se mostrado eficazes nessas abordagens com os profissionais;
- Na escola: com a elaboração de um PEI (Plano Educacional Individualizado), dependendo do nível de e da criança.
“O acompanhamento com uma equipe multidisciplinar e o envolvimento da família e escola, são fundamentais”.
A médica afirma ainda que o autismo não é uma barreira para o desenvolvimento, mas sim um convite para olharmos o mundo de outra forma. “Cada pessoa com TEA tem suas próprias potencialidades, desafios e forma de se expressar. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado fazem toda a diferença, mas o mais importante é o respeito, a inclusão e o apoio das famílias, escolas e da sociedade”.
Foto: Cedida
Neurologista Mara Deise: “O mais importante é o respeito, a inclusão e o apoio das famílias, escolas e da sociedade”