De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
(Adélia Prado)
A aurora nem sinalizava os seus primeiros raios de sol e, acordada ainda com os últimos acontecimentos registrados em sua memória e coração, decidira sair no alvorecer para zelar do túmulo do seu Senhor, sepultado há dois dias.
As mãos serenas e os delicados os de uma simples mulher traziam aromas, perfumes/óleos, flores e a companhia dos pássaros cantando em lindas e variadas melodias que o novo dia chegou.
Era madrugada de domingo e na direção do jazigo, solidária com a sua dor, experimentava o sofrimento do luto – presente sinal de uma recente ausência que não mais sairia do seu coração, transformado e respeitado em sua dignidade de ser humano e mulher.
Ao chegar ao sepulcro assustou-se com o medo e surpreendeu-se de estranha alegria.... Constatou que a pedra fora removida e a pedra que viu, virou poesia.
Amigo que ganhei, Deus que conheci, palavras/promessas que não guardei e túmulo vazio que, após a dura pedra, eu vi!
Já era dia e foi preciso divulgar o acontecido. Assim, tratou de partilhar o que testemunhara de tão significativo, já na manhã ensolarada de Páscoa.
Os homens, coadjuvantes pontuais da história que transformaria o mundo por meio do amor, ao tomarem conhecimento correram desesperados para testificar a narrativa da mulher e surpresos:
No meio do caminho não tinha uma pedra!
O tumulo estava vazio e no chão apenas os lençóis de linho, sacramentos de uma ausência! Viram, testemunharam e retornaram para as suas casas.
De teimosa esperança à tristeza que se alimentava em lágrimas, a mulher solitária permanecia entre a pedra removida, a entrada do túmulo e os lençóis de linho no chão.
De repente a pergunta óbvia a provocar, vinda de uns seres iluminados: por que choras tanto, mulher?
Em meio à fé que vacila, ao coração que não se consola, a resposta que não responde, desejosa de continuar a procura e a busca - como fazem tantas mulheres no mundo:
Levaram o meu Senhor e não sei onde o pam!
Ainda no silêncio da resposta que acabara de dar; na dor que não sabia mais orar; na tristeza obstinada de uma mulher que, para além das coisas que viu - Pedra, túmulo e lençóis de linho – de repente uma linda epifania se deu, o Senhor a chamou e seu nome ela ouviu: Maria.
Ao ouvi-lo declinar o nome e sentir a ternura com que sempre ele a tratou, o mistério revelou: Maria, a Madalena, pronunciado pelo Cristo ressurreto, marca que faltava para abrir os olhos da triste mulher. Jesus ressuscitou!
Nomear para crer na promessa benvinda e bendita do seu Senhor. Suficiente para trazer alegria ao coração de tantas Marias e mulheres em todo o mundo onde o Cristo ressurreto deseja sempre morar.
Maria Madalena é preciso continuar! Vá dizer aos seus que o Cristo ressuscitou.
Há esperança para todos nós!