Creio na ressurreição do corpo
Apesar das dificuldades de compreensão antropológica, ainda concebo o homem como um ser histórico e social. Vale dizer que esta observação sobre o ser humano já o diferencia de todos os outros animais existentes.
Esses possuem uma programação biológica definida, pronta, pois tudo lhes é ado (transmitido) de uma geração para a outra seguinte, sem a necessidade de qualquer educação ou consciência. Sua estruturação orgânica está completa, inscrita em seu DNA, devendo o seu comportamento manter-se sempre fechado em relação ao mundo. Para sobreviver, adaptam-se à natureza. O animal é o seu corpo.
O ser humano, por sua vez, não tem um planejamento biológico acabado/fechado que o leve a fazer sempre as mesmas coisas.
Pode, então, transformar e ser transformado num processo em movimento e, permanentemente inconcluso, onde as relações/relacionamentos nunca se acabam. O ser humano tem e faz o seu corpo/mundo.
Em outras palavras: o animal toma o mundo como lhe é dado. O homem não toma a natureza como seu limite e, como ela se apresenta ameaçadora, ele (sujeito) procura transformá-la a fim de que a mesma se ajuste às suas exigências e necessidades.
Aqui nasce o trabalho. Não como maldição divina ou fardo inável, que aguarda incessantemente a aposentadoria. Mas, como dádiva/graça, de onde se extrai o sustento e se preserva a vida e toda a criação.
Supõe-se que desta atividade humana (trabalho), surgiram os universos simbólicos e as técnicas que visam à eficiência do corpo.
Concebo, então, o homem como um ser histórico e que parece estar desadaptado de seu habitat, tornando-se um ser com o mundo.
Essa característica ímpar do ser humano o faz ser aberto, hábil para responder e não apenas reagir (como os animais) frente às imposições do ambiente e da vida.
Responde porque tem a vocação para a liberdade e, ao fazer isso, torna-se histórico, juntamente com o mundo já humanizado.
Há nessa dimensão o aprendizado e a educação que, vistas e observadas pedagogicamente, nada mais são do que o processo por meio do qual aprende-se uma forma de humanidade.
Aprender sobre a vida humana é tomar conhecimento de uma linguagem, tornando-se partícipe de um mundo que, às vezes e infelizmente, é hostil e violento!
Aprendi com um filósofo que “os limites da minha linguagem, são os limites do meu mundo”. Em outras palavras: a linguagem define a realidade vivida de cada um/uma criando uma comunidade ligada a uma mesma meta e experiência similar (a linguagem expõe e determina uma comunidade).
Contudo, também levanta fronteiras, determina seus limites e parte para o ataque daqueles que não comungam da mesma representação e significados. Eis aí a guerra, brutal e desumana a afrontar a vida!
Ao habitar o mundo criado e tornando-se corpo, Jesus estabeleceu um vínculo com o homem e sua história ao longo de sua experiência humana.
Ao se oferecer e, gratuitamente, doar-se em compaixão, comprometeu-se com a liberdade e a vida abundante que veio trazer. Sua linguagem: Paz na terra aos homens a quem Ele concede o seu favor!
A ressurreição de Cristo na história da humanidade autentica a linguagem pacificadora e de amor que veio trazer (por Deus e pelo próximo). Exige a bondade aos que mais necessitam e carecem de misericórdia e compaixão. Ressurreto faz de novo nascer a esperança no futuro, que certamente está a nos aguardar.