Orçadas em R$ 364,2 milhões e com 101,05 quilômetros de extensão, as obras de modernização da Rodovia Assis Chateaubriand (SP-425) na região de Presidente Prudente devem resultar em 91 áreas desapropriadas ao longo do trecho, com o valor total de R$ 15,9 milhões. Foram declaradas de utilidade pública, a fim de serem desapropriadas por via amigável ou judicial pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem), áreas e suas respectivas benfeitorias, que alcançam a somatória de 370.718,13 m², o equivalente a 15,3189 alqueires.
Entre os proprietários que devem ceder uma parte de suas terras à obra está Alberto Sitolino, 73 anos. O agricultor aposentado mora há 52 anos em uma chácara localizada exatamente em frente o Aeroporto Estadual de Prudente. No local, Alberto casou-se há 47 anos com Maria Florinda, 66 anos, criou os filhos e viu a família crescer. Atualmente, na propriedade de aproximadamente 14 mil m² moram 11 pessoas em quatro casas, entre filhos, noras e netos.
No mesmo local, funciona ainda a sede da Coaf (Cooperativa de Agricultura Familiar) de Prudente, que abriga pelo menos 22 produtores da região e está instalada em uma área de 2 mil m². Tudo isso, conforme o patriarca, deverá ser "reduzido a pó", caso o projeto de desapropriação de 8 mil m² da propriedade seja colocado em prática pelos órgãos competentes. "Eu já estou até doente só de pensar nisso. Aqui é o meu cantinho, onde vivi praticamente minha vida inteira. Um lugar como esse é difícil de encontrar, então, não tem sido fácil saber que vou ter que sair daqui", lamenta, emocionado.
Na propriedade ao lado mora o irmão de Alberto, Luiz Antonio Sitolino, 77 anos, juntamente com a esposa, Aparecida Domingues Sitolino, 74 anos. Fruto de uma herança, as medidas de sua propriedade são as mesmas do irmão, em torno de 14 mil m², assim como o montante de área que deve ser desapropriada (cerca de 8 mil m²). Outra medida semelhante é a da angústia, vivida pelo casal na espera pela decisão que poderá os afastar do solo onde vivem há 41 anos. "Não gosto nem de pensar nisso, tem noite que a gente nem dorme. Nunca pensei que um dia pudesse ter que deixar este lugar", desabafa Luiz Antonio.
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Iniciadas em meados de janeiro, as obras de modernização da Rodovia Assis Chateaubriand compreendem desde o km 418, na altura do distrito de Teçaindá, em Martinópolis, até o km 523,43, no distrito de Itororó do Paranapanema, em Pirapozinho, divisa com o Estado do Paraná. Ao todo, conforme informações do governo do Estado, serão 101,05 km de extensão, que deverão receber melhorias como duplicação, terceira faixa, recuperação do asfalto e pavimentação dos acostamentos, além da implantação de baias de ônibus e 23 dispositivos de o ao longo de todo o trecho.
E são exatamente esses dispositivos de o que devem ocasionar as maiores desapropriações, mais especificamente os viadutos. Entre o trecho que liga Prudente a Pirapozinho, por exemplo, que compreende o km 454,62 ao km 478,15, está prevista a colocação de dez dispositivos, sendo duas arelas e oitos viadutos. Um deles deve tomar exatamente a área onde estão localizadas as propriedades dos irmãos Sitolino, assim como sítios de pelo menos outros dois vizinhos dos irmãos. No local, o projeto prevê a construção de um viaduto para o ao aeroporto.
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Um pouco mais à frente, no chamado trevo da Goydo, em Prudente, outro viaduto deverá ser erguido, tomando assim áreas de pelo menos cinco propriedades, conforme os moradores, entre uma boate e três chácaras, além do próprio pesqueiro. Um dos que deverá ceder espaço ao dispositivo é o comerciante Luiz Carlos Domingues. Ele é proprietário do Pesqueiro Zóio D’Água há 20 anos e a obra deverá consumir 1,7 mil m² de seu estabelecimento, inclusive um dos tanques, que lhe serve como berçário e depósito de peixes.
Ainda assim, o comerciante diz que "não se importa" em ceder uma parcela de sua área, desde que a modernização coopere para a redução na quantidade de acidentes e mortes na rodovia. "Eu não ligo, se tiver que pegar um pedaço da minha propriedade pode pegar. Não aguento mais, praticamente todo fim de semana, ambulâncias pra lá e pra cá para socorrer os acidentes", enfatiza Luiz Carlos.
A opinião do comerciante é compartilhada pelos moradores de outra propriedade, localizada no trevo que liga a Assis Chateaubriand e a vicinal Maria Ruiz Martins. No local, mora uma idosa com seu marido, que não quiseram se identificar. Eles são funcionários de um sítio e terão que se mudar por causa da obra, para uma casa que já está sendo construída em outra área pelo patrão, enquanto a obra avança ao lado da humilde residência. "Vamos ter que sair, mais vai ser bom. É tanto acidente nessa rodovia que deixa a gente triste", comenta a mulher.
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De acordo com o DER, o DUP (Decreto de Utilidade Pública) que declara como utilidade pública áreas necessárias às obras de duplicação e modernização da SP-425 foi emitido em 2014 e ainda está em vigência. Sendo assim, "todos os processos de desapropriação das áreas estão em andamento após levantamento e avaliação das propriedades". Ainda conforme o órgão, ao todo, 91 áreas serão necessárias às obras, com o valor total de R$ 15,9 milhões. Além disso, o DER ressalta que "os moradores mencionados poderão questionar os valores em âmbito judicial", caso não concordem com o valor oferecido por suas propriedades.