Os bebês reborn e os “filhos de verdade" 2e61k

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OPINIÃO - Rosana Borges Gonçalves 451k6o

Data 22/05/2025
Horário 05:00

O Brasil vive um paradoxo desconcertante: de um lado, milhares de crianças reais esperam anos por uma família; do outro, bonecos hiper-realistas, os chamados bebês reborns, recebem cuidados maternos simbólicos, ganham enxoval, eios e atenção nas redes sociais. O fenômeno social desperta reflexões importantes sobre a idealização da infância, a seletividade dos afetos e os entraves que ainda dificultam a adoção no país.
De acordo com o SNA (Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento), do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em maio de 2024, havia 4.802 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, enquanto 36.331 pretendentes estavam cadastrados.
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) — Lei nº 8.069/1990 — é claro ao afirmar no art. 19 que toda criança tem direito à convivência familiar e comunitária.
Uma das maiores barreiras está na lentidão do próprio sistema judicial. Segundo a juíza Cristiane Padim, da Vara da Infância de São Paulo, “há casos em que a criança está institucionalizada há anos, mas ainda não teve sua situação jurídica definida, o que impede a adoção”. A magistrada explica que faltam servidores, psicólogos, assistentes sociais e uma atuação mais célere do Ministério Público para concluir os trâmites. (Globo News, 2023).
Outra dificuldade é a seletividade na escolha dos adotados: 80% dos pretendentes desejam crianças com até 5 anos, brancas, saudáveis e sem irmãos. Já a maioria das crianças disponíveis tem entre 8 e 17 anos, faz parte de grupos de irmãos ou possui alguma deficiência ou doença crônica.
A advogada e coordenadora do Movimento Nacional da Adoção, Maria Thereza Cotta, resume a situação: “Temos afeto disponível, mas ele é seletivo. As pessoas querem adotar a ideia da criança, não a criança com sua história, suas dores e suas marcas”.
Enquanto isso, cresce o culto aos bebês reborns, bonecos de vinil ou silicone criados com impressionante realismo. Vendidos por valores entre R$ 500 e R$ 5 mil, eles são tratados como filhos.
A psicóloga Rita Barros, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que os reborns representam “uma maternidade segura, sem frustrações, sem contrariedades. É a idealização do afeto, sem os desafios da realidade”.
Apesar dos desafios, algumas iniciativas podem ajudar a transformar esse cenário. Campanhas de conscientização sobre adoção tardia podem ajudar a desconstruir mitos e medos sobre crianças fora do perfil convencional. 
Propostas para acelerar a destituição do poder familiar poderiam reduzir o tempo de espera e garantir que mais crianças sejam incluídas no cadastro de adoção. Esta deveria ser vista como um ato de amor transformador, não como um processo jurídico incerto e burocrático.
Contudo, a febre dos bebês reborns surge como um sinal de alerta no Brasil: de um lado, adultos psicologicamente vulneráveis, e do outro lado, o dolorido e lento processo de adoção como forma de exclusão e não de acolhimento.

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