Palavra estranha 441u54

13s

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães 571s6u

Data 25/05/2025
Horário 04:02

Enquanto escrevia a primeira palavra deste texto, olhei para a tela do celular e fui tomado por um sentimento muito estranho, que enfraqueceu a força dos meus dedos sobre o teclado virtual. Parecia que a palavra não era minha! Seria ela fruto de algum processo de escrita sob o comando de algoritmos? Alguma espécie de “big brother” tentando adiantar-se aos meus pensamentos? Afinal, não parava de aparecer na tela uma oferta de palavras similares ou sugestões de qual deveria ser a palavra seguinte. 
Com essas minhocas na minha cabeça, enquanto eu tentava assumir o controle do processo da escrita, senti muita saudade do meu tempo de escola. Como era prazeroso o começo do ano letivo. Cadernos novos em cima da mesa. A minha mãe encapando os livros com plástico verde. O cuidado dela com os meus cadernos, escrevendo o meu nome nas etiquetas com a letra linda dela. Quanto capricho! E lá íamos nós felizes para a escola…. Ainda sinto aquele cheirinho das folhas novas, lisinhas, como se estivessem a convidar nossos rabiscos, cópias dos textos escritos pela professora no quadro de giz e até mesmo as primeiras redações.
Nenhuma das minhas referências mais antigas do ato de ler me ajudavam. Não conseguia superar o estranhamento com a palavra. Nem mesmo as cartas manuscritas da minha avó recebidas das mãos dos carteiros na porta de casa (também tinha uma letra linda de professora primária), aqueles recados dos colegas de turma nos cantos dos livros, meus primeiros poemas relâmpagos escritos nos minutos finais das aulas de redação, textos escritos com a caneta tinteiro…. Percebi que na escrita digital não era possível “mastigar as palavras”, forjá-las na folha de papel por meio das ranhuras do grafite na superfície branca. Conclui que a minha vivência da escrita tornava aquela palavra parada ali um híbrido. Ela foi digitada por mim. Eu mantinha ela ali porque nao dava bola nenhuma para as outras opções ofertadas pelo aplicativo. Ao mesmo tempo, ela não era minha. Não ava de alguns pulsos eletrônicos com alguns bits e o poder de desaparecer em frações de segundos, efêmera nuvem ageira. É o novo normal, diriam os mais jovens, mas a escrita artesanal continuará rondando as palavras para que elas nunca esqueçam do canto. “Não sou alegre, nem sou triste. Eu canto apenas porque o instante existe”. 

 

Publicidade

Veja também 3f43k

Esportes 6g185j

Notícias Alta Roda

Turismo 1b4s6k

Notícias Diário de Bordo

Guias 6c22v

Todos Comer e Beber
ANUNCIE AQUI

Segurança 224x5r

Site Seguro

Redes Sociais a4dw

Associado: c1w62