Todos esses que estão aí atravancando
meu caminho... Eles arão
Eu arinho!
Mário Quintana
Tenho uma relação afetiva com as palavras, não vivo sem elas! Sobretudo aquelas que, devagarinho e em doses cotidianas, vêm até mim, como a visita dos pássaros que adornam os quintais e os Quintanas.
Palavras não para serem pensadas, mas comidas como o alimento diário que sustenta o corpo para a lida da vida. Será por isso que Jesus, em pleno deserto e solidão, tenha dito com objetividade e santa provocação: “Nem só de pão vive o homem”?
Quero sempre as palavras comigo e em “meu caminho... Eles arão. Eu arinho”!
Tenho uma relação de subserviência com a palavra que constitui a minha travessia e indica-me a esperança gestada no verbo: Palavra que se fez carne e habita comigo. Jesus, o Cristo, pão da vida!
Palavra para além das certezas e convicções que brotam na história e semeiam a gratuidade do amor, que de tão belo e singelo: “sofre, crê, espera e tudo a”. Trechos pequenos e sagrados de uma linda poesia que eterniza o mais nobre sentimento, capaz de emudecer Machado de Assis em toda a sua relevância literária, diante da beleza da linguagem amorosa resultante do encontro humanamente divino e divinamente humano.
Será por isso que Barthes questionava tanto ao perguntar: “Nunca lhe ocorreu ler levantando a cabeça”? Quero sempre a Palavra comigo e em “meu caminho... Eles arão. Eu arinho”!
Tenho uma relação de refúgio nas palavras, principalmente, quando o sofrimento bate à minha porta e humanamente sou tentado a jogar a toalha e abandonar o barco que navega nem um pouco cauteloso no mar da vida.
O sábado que não aguardava em momento algum. De repente não mais que de repente, aparece com a força da informação/palavra: 500 mil pessoas no Brasil morreram de Covid-19 transformando a existência verde e amarela em enorme luto coletivo.
Recorro às palavras, principalmente, às poesias que em minha carne fazem moradia solicitando de mim a força necessária para prosseguir... “Os bosques são belos, escuros e profundos; mas tenho muitas promessas a cumprir e milhas a percorrer antes de se poder dormir”. Sim, antes de se poder dormir.
As palavras que se apresentam como sustento/fonte bendita no meu cotidiano informam que, no horizonte que escurece, há sempre um alvorecer que aguarda contra toda a desesperança, indicando que é preciso caminhar e que as respostas às agruras da presente vida não respondem, mas fazem prosseguir!
Nas entranhas da minha alma, permanência de meu inconsciente e consciente concreto de que existo em meio às precariedades da vida, as palavras do Mestre que me ordenam a continuar sempre: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo”!
Que venham as palavras doces como o mel e o destilar dos favos para que eu e os tempos difíceis da vida!
Quero sempre a Palavra comigo e em “meu caminho... Eles arão. Eu arinho”!