Trago informações boas e não tão boas para aqueles que praticam exercícios durante alguns meses, dão uma pausa, depois voltam, mantendo um ciclo ativo-sedentário. Existem muitos praticantes sazonais, ou seja, permanecem ativos no início (fevereiro a maio) e final do ano (setembro a dezembro), mas assumem estilo de vida sedentário nos períodos de inverno e de festas e férias de verão.
ADAPTAÇÕES 1
A prática de exercício provoca adaptações agudas e crônicas no sistema muscular e outros sistemas fisiológicos. Adaptações agudas são necessárias para que a pessoa possa executar cada sessão de exercícios: aumento da frequência cardíaca, da ventilação pulmonar, da atividade das enzimas nos músculos etc. Adaptações crônicas acontecem com a repetição das sessões de exercício (treinamento) para que a pessoa possa ser mais tolerante ao esforço, cansar menos, ter melhor desempenho.
ADAPTAÇÕES 2
Adaptações crônicas também acontecem nos músculos e outros sistemas fisiológicos: aumento das câmaras do coração, do volume de sangue, número de hemácias etc. Nos músculos há adaptações metabólicas, que acontecem mais rapidamente, porém são também perdidas mais rapidamente caso o treinamento cesse por sete dias ou mais. As adaptações miofibrilares são as estruturais, que demoram um pouco mais para acontecer e também para perda com a interrupção do treinamento
Na volta ao treinamento, a “memória muscular” é ativada e a pessoa retoma a condição com todas as adaptações que havia obtido
HIPERTROFIA
O aumento dos músculos depende de adaptações metabólicas e miofibrilares. No treinamento de musculação, ao longo de 3-6 meses o músculo vai acumulando moléculas progressivamente, assim como aumentam as proteínas estruturais, deixando-o mais forte e “inchado”. Se houver interrupção do treinamento, o músculo perde o excedente de moléculas (inclusive água) a partir de sete dias, vai “murchando” e enfraquecendo. As proteínas estruturais são perdidas ao longo de meses e a pessoa pode voltar ao tamanho e estado inicial, pré-treinamento.
MEMÓRIA MUSCULAR
Estudo publicado em 2025 na revista Journal of Physiology demonstrou que o treinamento com pesos (ex. musculação) promove uma “memória muscular” das proteínas que ficam aumentadas, como parte da adaptação do músculo ao esforço repetido. Quando há interrupção do treinamento (destreinamento) apenas algumas das proteínas são mantidas por um período de 2,5 meses (tempo estudado). Porém, na volta ao treinamento, a “memória muscular” é ativada e, num período de treinamento de mais 2,5 meses, a pessoa retoma a condição com todas as adaptações que havia obtido antes de destreinamento.
CONSTÂNCIA
A prática de exercícios deve ter continuidade e constância para que sejam obtidos os maiores benefícios para saúde. O mínimo deve ser de 3x/semana e, idealmente, 5x/semana, sendo um dia de descanso no final de semana e outro no meio da semana. Cada sessão de exercício provoca a secreção das miocinas (ou exercinas) que têm efeitos no controle do metabolismo e proteção do coração e sistema nervoso. Apesar de haver essa “memória muscular” que possibilita a retomada, o ciclo ativo-sedentário baseado em estações do ano, férias, festas etc, não é boa opção para os músculos e para saúde geral.
Referências
Halonen EJ, Gabriel I, Kelahaara MM, Ahtiainen JP, Hulmi JJ. Does taking a break matter-adaptations in muscle strength and size between continuous and periodic resistance training. Scand J Med Sci Sports. 2024; 34(10): e14739. http://dx.doi.org/10.1111/sms.14739
Hulmi JJ, Halonen EJ, Sharples AP, Ahtiainen JP. Human skeletal muscle possesses both reversible proteomic signatures and a retained proteomic memory after repeated resistance training. J Physiol. 2025; 603(9): 2655-2673. http://dx.doi.org/10.1113/JP288104
Pilotto AM, Turner DC, Mazzolari R, ..., Porcelli S. Human skeletal muscle possesses an epigenetic memory of high-intensity interval training. Am J Physiol Cell Physiol. 2025; 328(1): C258-C272. http://dx.doi.org/10.1152/ajpcell.00423.2024
Sharples AP, Turner DC. Skeletal muscle memory. Am J Physiol Cell Physiol. 2023; 324(6): C1274-C1294. http://dx.doi.org/10.1152/ajpcell.00099.2023